The Ludens Topoï

Um espaço para explorar Game Studies, Física, Matemática e Filosofia

Introdução à Quantização por Deformação

§1. O formalismo Newtoniano

A mecânica clássica emerge, historicamente, como a formalização matemática da idealidade físico-geométrica inaugurada por Galileu, para quem a natureza só se torna legível sob a redução eidética do movimento à geometria dos tempos e distâncias, inaugurando aquilo que Husserl, em Krisis, criticou e nomeou como "matematização do mundo-da-vida" (Mathematisierung der Lebenswelt) [HUSSERL-1936]. Newton radicaliza essa virada ao postular, no Principia, uma dinâmica em que forças — entidades não diretamente fenomenológicas — estruturam o movimento segundo leis universais. Em uma leitura kantiana, Newton articula juízos sintéticos a priori: princípios que, ao aplicarem as categorias puras ao conceito empírico de matéria, constituem metafisicamente a possibilidade de uma ciência exata do movimento. Com esse advento da mecânica clássica, estabelece-se um regime de objetividade fundado na idealização, no princípio de razão suficiente causal e na contínua matematização, produzindo um saber em que a realidade física é concebida como um sistema determinístico de estados — um mundo composto por substâncias extensas (corpos ou partículas dotadas de propriedades intrínsecas, como massa), interagindo por forças em um tempo e um espaço que Newton postula como absolutos — o que seria denunciado, em chave husserliana, como um caso paradigmático da "transcendência reificada" que provém da abstração geométrica.

Além disso, com a consolidação desse paradigma no século XVIII, desenvolve-se uma forma de realismo científico na qual as entidades teóricas tratadas pela física — forças gravitacionais, massas inerciais — passam a ser vistas não apenas como ferramentas matemáticas (instrumenta rationis), mas como correspondentes a estruturas da realidade exterior objetiva. Concomitantemente, estabelece-se um mecanicismo ontológico que interpreta os fenômenos como resultantes de interações causais regidas por leis invariantes. Essa cosmovisão prometia a inteligibilidade epistêmica do mundo através de sua redutibilidade teórica a um sistema determinístico fechado \(\mathcal{S}_C\), e veio a influenciar não somente as demais ciências positivas nos séculos subsequentes, mas também a própria filosofia — como se vê nos Metaphysische Anfangsgründe der Naturwissenschaft, onde Kant fornece os fundamentos metafísicos necessários para a mecânica newtoniana enquanto ciência propriamente dita (eigentliche Wissenschaft) [KANT-1786].

Formalmente, esses sistemas são descritos por meio de duas estruturas fundamentais: seu espaço físico (o espaço "real", onde os corpos e partículas habitam), modelado como o espaço 3-dimensional euclidiano \(\mathbb{R}^3\), e seu espaço de configurações (um construto puramente matemático, idealizado, que comporta todas as possíveis configurações do sistema), modelado como o espaço \(3N\)-dimensional também euclidiano \(\mathbb{R}^{3N}\) — onde \(N\) é o número de partículas (ou corpos) que compõe \(\mathcal{S}_C\). Desse modo, o absoluto espaço-tempo newtoniano é, em um sentido puramente formal, o produto cartesiano \(\mathbb{R} \times \mathbb{R}^3\). A trajetória de uma partícula (ou corpo) pontual \(a\) em \(\mathbb{R}^3\) é descrita pela sua linha-mundo, o gráfico \(\{(t_a, \boldsymbol{\mathrm{x}}_a(t_a)) : t_a \in \mathbb{R}\} \subset \mathbb{R} \times \mathbb{R}^3\), onde \(\boldsymbol{\mathrm{x}}_a \in C^2(\mathbb{R}; \mathbb{R}^{3})\) é a função posição e \((t_a, \boldsymbol{\mathrm{x}}_a(t_a))\) configura um evento — uma fotografia de \(a\) na posição \(\boldsymbol{\mathrm{x}}_a(t_a)\) no instante \(t_a\). Contudo, para tornar \(\mathbb{R} \times \mathbb{R}^3\) palco de um sistema dinâmico — e não apenas de imagens estáticas —, é necessário introduzir definições rigorosas de velocidade e aceleração. Newton o fez por meio do método das fluxões, da seguinte maneira: seja \(\boldsymbol{\mathrm{x}}\) o fluente (fluens, aquilo que flui ou varia continuamente no tempo) de uma partícula; sua fluxão primeira (fluxio, a taxa instantânea de variação do fluente em relação ao tempo) é denotada por \(\dot{\boldsymbol{\mathrm{x}}}\), isto é, sua velocidade. De modo análogo, a fluxão de \(\dot{\boldsymbol{\mathrm{x}}}\) — ou a segunda fluxão de \(\boldsymbol{\mathrm{x}}\) — é \(\ddot{\boldsymbol{\mathrm{x}}}\), que define sua aceleração. Na linguagem da análise matemática moderna, "aquilo que flui ou varia continuamente no tempo" nada mais é do que uma função diferenciável, e sua fluxão — sua variação instantânea no tempo — é sua derivada em relação a \(t\): \begin{equation} \dot{\boldsymbol{\mathrm{x}}} = \dfrac{d\boldsymbol{\mathrm{x}}}{dt} \quad \text{e} \quad \ddot{\boldsymbol{\mathrm{x}}} = \dfrac{d^2\boldsymbol{\mathrm{x}}}{dt^2}. \tag{1} \end{equation}

Nota técnica 1: A formulação newtoniana trabalha primordialmente com o espaço de configurações \(\mathbb{R}^{3N}\), mas a estrutura completa do espaço de estados requer o fibrado tangente \(T\mathbb{R}^{3N} \cong \mathbb{R}^{3N} \times \mathbb{R}^{3N}\), onde as velocidades são tratadas como elementos do espaço tangente. Esta distinção será crucial para a transição ao formalismo hamiltoniano.

Uma vez estabelecidas essas noções fundamentais, torna-se possível explicitar, formalmente, um dos traços epistemológicos e ontológicos centrais à mecânica newtoniana: seu supracitado determinismo. Com efeito, postula-se: o movimento de qualquer sistema físico clássico em um intervalo de tempo \(\text{I} \subseteq \mathbb{R}\) — isto é, os conjuntos \(\{\boldsymbol{\mathrm{x}}_i(t) : i \leq N,\, t \in \text{I}\}\) e \(\{\dot{\boldsymbol{\mathrm{x}}}_i(t) : i \leq N,\, t \in \text{I}\}\) — é determinado exclusiva e univocamente pelo seu estado inicial, i.e., por \(\boldsymbol{\mathrm{x}}_i(t_0)\) e \(\dot{\boldsymbol{\mathrm{x}}}_i(t_0)\), com \(t_0 = \inf\{\text{I}\}\). Este postulado — que Bhaskar, em sua ontologia realista crítica [BHASKAR-1975], identificaria como expressão transitiva da estrutura causal generativa subjacente aos fenômenos — traduz-se formalmente na relação: \begin{equation} \ddot{\boldsymbol{\mathrm{x}}} = \boldsymbol{\Phi}, \tag{2} \end{equation} onde \(\boldsymbol{\Phi}: \mathbb{R}^{3N} \times \mathbb{R}^{3N} \times \mathbb{R} \rightarrow \mathbb{R}^{3N}\) e \(\ddot{\boldsymbol{\mathrm{x}}} = (\ddot{\boldsymbol{\mathrm{x}}}_1, \ldots, \ddot{\boldsymbol{\mathrm{x}}}_N)\), uma equação diferencial ordinária de segunda ordem pela qual formalizaremos o núcleo dinâmico da teoria newtoniana. Denotando a velocidade de uma partícula (ou corpo) por \(\boldsymbol{\mathrm{v}} \in C^1(\mathbb{R}; \mathbb{R}^{3N})\), por definição, tem-se que \(\dot{\boldsymbol{\mathrm{x}}} = \boldsymbol{\mathrm{v}}\). Suponha que \(\boldsymbol{\mathrm{x}}\) seja solução para (2). Deste modo, obtém-se o sistema de equações diferenciais ordinárias de primeira ordem: \begin{equation} \begin{pmatrix} \dot{\boldsymbol{\mathrm{x}}} \\ \dot{\boldsymbol{\mathrm{v}}} \end{pmatrix} = \begin{pmatrix} \boldsymbol{\mathrm{v}} \\ \boldsymbol{\Phi}(\boldsymbol{\mathrm{x}}, \boldsymbol{\mathrm{v}}, t) \end{pmatrix}, \tag{3} \end{equation} que pode ser reescrito como o sistema autônomo (quando \(\boldsymbol{\Phi}\) não depende explicitamente de \(t\)): \begin{equation} \dot{\mathbf{y}} = \mathbf{G}, \quad \text{com} \quad \mathbf{y} = (\boldsymbol{\mathrm{x}}, \boldsymbol{\mathrm{v}}) \in \mathbb{R}^{6N} \quad \text{e} \quad \mathbf{G}= (\boldsymbol{\mathrm{v}}, \boldsymbol{\Phi}). \end{equation}

Por conseguinte, pode-se demonstrar rigorosamente que a solução de (2) existe e é única — i.e., estabelecer, formalmente, sua univocidade. Assumindo como válidas as hipóteses usuais do teorema de Picard–Lindelöf, existe um \(t_0 \in \mathbb{R}\) e uma vizinhança compacta \(U \subset \mathbb{R}^{3N} \times \mathbb{R}^{3N}\) de \(\mathbf{y}_0 = (\boldsymbol{\mathrm{x}}_0, \dot{\boldsymbol{\mathrm{x}}}_0)\) tal que \(\mathbf{G}: U \times J \to \mathbb{R}^{6N}\) (onde \(J\) é um intervalo contendo \(t_0\)) é contínua em \(U\) e satisfaz uma condição de Lipschitz em \(\mathbf{y}\) uniformemente em \(t\). Note que a condição de Lipschitz sobre \(\mathbf{G}\) equivale à condição de Lipschitz sobre \(\boldsymbol{\Phi}\) nas componentes \((\boldsymbol{\mathrm{x}}, \boldsymbol{\mathrm{v}})\), isto é: \begin{equation} \|\boldsymbol{\Phi}(\boldsymbol{\mathrm{x}}_1, \boldsymbol{\mathrm{v}}_1, t) - \boldsymbol{\Phi}(\boldsymbol{\mathrm{x}}_2, \boldsymbol{\mathrm{v}}_2, t)\| \leq L\big(\|\boldsymbol{\mathrm{x}}_1 - \boldsymbol{\mathrm{x}}_2\| + \|\boldsymbol{\mathrm{v}}_1 - \boldsymbol{\mathrm{v}}_2\|\big). \end{equation} Assim, pelo teorema de Picard–Lindelöf [PICARD-1890; CODDINGTON-1955] (que garante a existência e unicidade local para sistemas ordinários de primeira ordem), existe um intervalo aberto \(t_0 \in \text{I}\) e uma única solução \(\mathbf{y} \in C^1(\text{I}; \mathbb{R}^{3N} \times \mathbb{R}^{3N})\) que satisfaz a condição inicial \(\mathbf{y}(t_0) = \mathbf{y}_0\). Da definição de \(\mathbf{y}\) segue imediatamente que \(\boldsymbol{\mathrm{x}} \in C^2(\text{I}; \mathbb{R}^{3N})\) — o que está em plena concordância com o que fora estabelecido anteriormente — e que \(\boldsymbol{\mathrm{x}}\) é a única solução da equação de segunda ordem (2) com as condições iniciais dadas.

Do ponto de vista do estudo moderno das Equações Diferenciais, vale enfatizar dois pontos adicionais: (i) a solução \(\boldsymbol{\mathrm{x}}\) pode ser caracterizada como ponto fixo do operador integral de Volterra [CODDINGTON-1955, cap. 3] para a equação de segunda ordem. De fato, escrevendo a equação de movimento na forma (2) e integrando duas vezes, obtém-se: \begin{equation} \boldsymbol{\mathrm{x}}(t) = \boldsymbol{\mathrm{x}}_0 + (t - t_0)\dot{\boldsymbol{\mathrm{x}}}_0 + \int_{t_0}^t \int_{t_0}^s \boldsymbol{\Phi}(\boldsymbol{\mathrm{x}}(\tau), \dot{\boldsymbol{\mathrm{x}}}(\tau), \tau)\, d\tau\, ds, \end{equation} que, integrando por partes, pode ser reescrita como: \begin{equation} \boldsymbol{\mathrm{x}}(t) = \boldsymbol{\mathrm{x}}_0 + (t - t_0)\dot{\boldsymbol{\mathrm{x}}}_0 + \int_{t_0}^t (t - s)\boldsymbol{\Phi}(\boldsymbol{\mathrm{x}}(s), \dot{\boldsymbol{\mathrm{x}}}(s), s)\, ds, \end{equation} que nada mais é que a imagem de \(\boldsymbol{\mathrm{x}}\) pelo operador integral de Volterra: \begin{equation} (V\boldsymbol{\mathrm{x}})(t) = \boldsymbol{\mathrm{x}}_0 + (t - t_0)\dot{\boldsymbol{\mathrm{x}}}_0 + \int_{t_0}^t \boldsymbol{\mathrm{K}}(t, s, \boldsymbol{\mathrm{x}}(s), \dot{\boldsymbol{\mathrm{x}}}(s))\, ds, \tag{4} \end{equation} onde \(\boldsymbol{\mathrm{K}}(t, s, \cdot, \cdot) = (t - s)\boldsymbol{\Phi}(s, \cdot, \cdot)\). Essa formulação oferece não apenas uma visão funcional da dinâmica, mas também reflete a estrutura causal característica das equações de evolução; (ii) a estrutura de Lipschitz garante, além da unicidade, a estabilidade local — pequenas perturbações no estado inicial produzem pequenas perturbações na solução, propriedade essencial para que a noção física de "estado" tenha significado operacional. Considerado sobre um espaço de medida completo \((I, \mathcal{A}, \mu)\), tipicamente \(I = [t_0, T]\) com a medida de Lebesgue \(\mu\), o operador: \begin{equation} (Vf)(t) = \int_{t_0}^t K(t, s)f(s)\, d\mu(s) \end{equation} é bem definido sempre que: (1) o núcleo \(K(t, s)\) é mensurável em \(I \times I\); (2) \(K(t, s) = 0\) quando \(s > t\) (causalidade); (3) para \(f \in L^p(I)\), tem-se \(s \mapsto K(t, s)f(s) \in L^1([t_0, t])\) para quase todo \(t\). Sob a condição clássica de Young: \begin{equation} \sup_{t \in I} \int_{t_0}^t |K(t, s)|^q\, ds < \infty \qquad \left(\frac{1}{p} + \frac{1}{q} = 1\right), \end{equation} o operador \(V: L^p(I) \to L^p(I)\) é linear, limitado e compacto.

Formalizado, portanto, o núcleo analítico da teoria newtoniana, é instrutivo observar como as próprias Leis de Newton emergem, nesse contexto, como casos particulares da equação (2). Consideremos, inicialmente, a primeira lei: ela postula que, em um referencial inercial e na ausência de forças externas, a velocidade de um sistema permanece constante no tempo. Este nada mais é do que o caso particular associado à condição de velocidade constante, i.e., ao caso em que \(\ddot{\boldsymbol{\mathrm{x}}} = 0\) e, consequentemente, \(\boldsymbol{\Phi} = 0\), \(\forall t \in \text{I}\). A segunda lei, por sua vez, postula que em um referencial inercial, a soma das forças externas (ou resultantes) que atuam sobre um sistema equivale à variação instantânea do seu momento linear, definido como \(\boldsymbol{\mathrm{p}} = m\dot{\boldsymbol{\mathrm{x}}}\), onde \(m\) é a massa inercial total dos constituintes (corpos e/ou partículas) do sistema. Formalmente, tem-se: \begin{equation} \boldsymbol{\mathrm{F}} = \dot{\boldsymbol{\mathrm{p}}} = m\ddot{\boldsymbol{\mathrm{x}}}, \quad \text{com} \quad \boldsymbol{\mathrm{F}} = \sum_{j} \boldsymbol{\mathrm{F}}_j \quad \text{e} \quad m = \sum_i m_i. \tag{5} \end{equation} Ora, isso nada mais é do que um outro caso particular de (2): basta assumir que \(\boldsymbol{\Phi} = m^{-1}\boldsymbol{\mathrm{F}}\), de modo que a função \(\boldsymbol{\Phi}\) — introduzida abstratamente como campo vetorial dinâmico responsável pela aceleração — é identificada, na formulação newtoniana, como a aceleração produzida pela força resultante por unidade de massa.

O cerne da mecânica newtoniana consiste, portanto, em determinar a função \(\boldsymbol{\mathrm{x}}: I \subset \mathbb{R} \to \mathbb{R}^{3N}\) associada ao movimento de um sistema específico \(\mathcal{S}_{C'}\). Dado o que foi exposto até aqui, é evidente como proceder: basta integrar diretamente a equação (5) aplicando as condições iniciais adequadas ou, alternativamente, utilizar o método do ponto fixo com o operador de Volterra definido em (4). Contudo, há limitações estruturais imanentes à mecânica newtoniana, que manifestam-se em múltiplas dimensões — epistemológicas, operacionais e ontológicas. Do ponto de vista operacional, a formulação newtoniana enfrenta dificuldades ao lidar com sistemas sujeitos a restrições geométricas. Nesses casos, o formalismo newtoniano obriga-nos a introduzir forças de vínculo que, embora necessárias matematicamente para fechar o sistema de equações, não correspondem a interações físicas fundamentais.

Exemplo 1 (Pêndulo simples): Considere uma partícula de massa \(m\) restrita a mover-se sobre uma circunferência de raio \(l\) no plano vertical sob ação da gravidade. Em coordenadas cartesianas \((x, y)\), o vínculo é expresso pela relação algébrica: \begin{equation} \phi(x, y) = x^2 + y^2 - l^2 = 0. \end{equation} Na formulação newtoniana, deve-se introduzir uma força de vínculo \(\boldsymbol{\lambda}\) (a tensão da corda) que mantém a partícula sobre a circunferência. As equações de movimento tornam-se: \begin{equation} m\ddot{x} = -\lambda \frac{\partial \phi}{\partial x}, \quad m\ddot{y} = -mg - \lambda \frac{\partial \phi}{\partial y}, \end{equation} onde \(\lambda\) é um multiplicador de Lagrange desconhecido que deve ser determinado simultaneamente com a trajetória. A dificuldade operacional é evidente: introduzimos variáveis espúrias (\(x, y, \lambda\)) quando o sistema possui apenas um grau de liberdade efetivo (o ângulo \(\theta\)).

Exemplo 2 (Partícula em superfície esférica): Considere, agora, uma partícula restrita a mover-se sobre a esfera \(S^2 = \{(x, y, z) \in \mathbb{R}^3 : x^2 + y^2 + z^2 = R^2\}\) sob forças externas. O vínculo é: \begin{equation} \phi(x, y, z) = x^2 + y^2 + z^2 - R^2 = 0. \end{equation} Novamente, introduzimos coordenadas redundantes \((x, y, z)\) e uma força de vínculo \(\boldsymbol{\lambda} = \lambda \nabla \phi\), resultando em um sistema com 4 incógnitas \((x, y, z, \lambda)\) para descrever apenas 2 graus de liberdade (coordenadas esféricas \(\theta, \varphi\)).

Essa proliferação de entidades teóricas não observáveis (forças de vínculo) exemplifica o que Sellars chamaria de "mito do dado" [SELLARS-1963] na imagem científica — a pressuposição de que devemos postular entidades ocultas para explicar restrições que são, em última instância, puramente geométricas. Bhaskar, por outro lado, identificaria aqui uma confusão entre o domínio transitivo (nosso conhecimento do sistema) e o domínio intransitivo (as estruturas causais reais): as forças de vínculo são artefatos epistemológicos, não mecanismos causais.

Exemplo 3 (Corpo rígido): Um corpo rígido em \(\mathbb{R}^3\) possui \(N\) partículas com vínculos holônomos: \begin{equation} \phi_{ij}(\boldsymbol{\mathrm{x}}_i, \boldsymbol{\mathrm{x}}_j) = \|\boldsymbol{\mathrm{x}}_i - \boldsymbol{\mathrm{x}}_j\|^2 - d_{ij}^2 = 0, \quad \forall i < j, \end{equation} onde \(d_{ij}\) são as distâncias fixas. O sistema possui \(3N\) coordenadas, mas \(\binom{N}{2}\) vínculos, resultando em \(3N - \binom{N}{2}\) graus de liberdade efetivos. Para \(N\) grande, a formulação newtoniana torna-se intratável, exigindo a solução simultânea de milhares de equações acopladas com multiplicadores de Lagrange.

Uma segunda limitação estrutural está associada as forças de vínculo e, portanto, é também de natureza geométrica: a formulação newtoniana é intrinsecamente dependente da escolha de coordenadas e não respeita a estrutura geométrica intrínseca dos espaços de configuração. Quando o espaço de configurações não é \(\mathbb{R}^n\) — por exemplo, quando é uma variedade diferenciável como \(S^2\), \(SO(3)\) ou \(T^2\) — a imposição de coordenadas cartesianas globais torna-se impossível ou artificialmente complicada. Uma outra limitação é de invariância: a formulação newtoniana não torna manifesta a invariância das leis físicas sob transformações de coordenadas generalizadas. Embora as leis de Newton sejam invariantes sob transformações galileanas (translações, rotações, boosts), essa invariância não é transparente no formalismo. Como consequência, a conexão profunda entre simetrias e leis de conservação — cristalizada no teorema de Noether — permanece oculta.

§2. O Formalismo Lagrangiano: Geometria do Fibrado Tangente

A reformulação lagrangiana da mecânica clássica, desenvolvida por Euler e Lagrange no século XVIII e consolidada por Hamilton, Jacobi e Poincaré no XIX, representa uma sublimação conceitual (Aufhebung) da formulação newtoniana: preserva sua verdade empírica enquanto supera (aufhebt) suas limitações estruturais através de uma reconfiguração geométrico-variacional do seu corpo teórico. O que emerge é uma mecânica fundamentada não em forças, mas em uma função escalar — a Lagrangiana — que codifica toda a dinâmica do sistema através do princípio de mínima ação. Formalmente, agora quem assume o papel de espaço de configurações é $Q$, uma variedade diferenciável suave de dimensão \(n\); para a partícula na esfera, \(Q = S^2\); para \(N\) partículas livres, \(Q = \mathbb{R}^{3N}\). O fibrado tangente \(TQ\) é definido como [LEE-2013; MARSDEN-1999]: \begin{equation} TQ = \bigcup_{q \in Q} \{q\} \times T_q Q, \end{equation} onde \(T_q Q\) é o espaço tangente a \(Q\) no ponto \(q\) — o espaço vetorial de todas as velocidades possíveis em \(q\). Um ponto em \(TQ\) é um par \((q, v)\) com \(q \in Q\) e \(v \in T_q Q\). O fibrado tangente possui estrutura natural de variedade diferenciável de dimensão \(2n\) e é o espaço de estados da mecânica lagrangiana.

Nota técnica 2: A projeção canônica \(\pi: TQ \to Q\), \(\pi(q, v) = q\), define a estrutura de fibrado. Para cada carta local \((U, \varphi)\) em \(Q\) com coordenadas \(q = (q^1, \ldots, q^n)\), existe uma carta induzida \((TU, T\varphi)\) em \(TQ\) com coordenadas \((q^1, \ldots, q^n, \dot{q}^1, \ldots, \dot{q}^n)\), onde \(\dot{q}^i\) são as componentes da velocidade na base coordenada \(\{\partial/\partial q^i\}\).

Uma Lagrangiana é uma função suave \(L: TQ \times \mathbb{R} \to \mathbb{R}\), tipicamente da forma: \begin{equation} L(q, \dot{q}, t) = T(\dot{q}) - V(q, t), \tag{6} \end{equation} onde \(T: TQ \to \mathbb{R}\) é a energia cinética e \(V: Q \times \mathbb{R} \to \mathbb{R}\) é a energia potencial. Para sistemas naturais, a energia cinética é definida por uma métrica riemanniana \(g\) em \(Q\): \begin{equation} T(q, \dot{q}) = \frac{1}{2} g_q(\dot{q}, \dot{q}) = \frac{1}{2} g_{ij}(q) \dot{q}^i \dot{q}^j, \end{equation} onde \(g_{ij}(q)\) são as componentes do tensor métrico em coordenadas locais.

O princípio de Hamilton (ou princípio de mínima ação) postula que o movimento físico do sistema entre dois instantes \(t_1\) e \(t_2\), com configurações fixadas \(q(t_1) = q_1\) e \(q(t_2) = q_2\), é dado por uma curva \(\gamma: [t_1, t_2] \to Q\) que torna estacionária a ação funcional: \begin{equation} S[\gamma] = \int_{t_1}^{t_2} L(\gamma(t), \dot{\gamma}(t), t)\, dt, \tag{7} \end{equation}

Nota técnica 3 (Boa-definição do funcional de ação): Do ponto de vista da teoria da medida clássica [EVANS-GARIEPY-2015], a integral (7) está bem definida, também sob hipóteses extremamente brandas. Consideremos \(I = [t_1, t_2]\) equipado com a medida de Lebesgue \(\mu\). Para uma curva \(\gamma \in C^2(I; Q)\), a aplicação \(t \mapsto L(\gamma(t), \dot{\gamma}(t), t)\) é mensurável em \((I, \mathcal{B}(I), \mu)\), onde \(\mathcal{B}(I)\) denota a σ-álgebra de Borel. Mais ainda, se \(L\) é localmente limitada e \(\gamma\) tem velocidade localmente limitada (o que é automático para \(\gamma \in C^2\) em intervalos compactos), então: \[ t \mapsto L(\gamma(t), \dot{\gamma}(t), t) \in L^1(I, \mu), \] garantindo que a integral de Lebesgue existe e é finita. De fato, a regularidade \(C^2\) pode ser substancialmente relaxada: o funcional \(S\) estende-se naturalmente ao espaço de Sobolev \(H^1(I; Q)\) — o espaço de curvas absolutamente contínuas com derivadas fracas em \(L^2\) — que é o setting natural para o cálculo variacional moderno. Sob a hipótese de crescimento moderado: \[ |L(q, v, t)| \leq C(1 + \|v\|^p), \quad p \geq 1, \] tem-se \(S: W^{1,p}(I; Q) \to \mathbb{R}\) bem definido e contínuo. Do ponto de vista da teoria geométrica da medida [FEDERER-1969; MORGAN-2016], quando \(Q\) é uma variedade riemanniana, a ação pode ser interpretada como um funcional de energia sobre o espaço de curvas retificáveis. Para curvas Lipschitz \(\gamma: I \to Q\), a velocidade métrica \(|\dot{\gamma}|(t) = \lim_{h \to 0} d_Q(\gamma(t+h), \gamma(t))/|h|\) existe q.s., e podemos escrever: \[ S[\gamma] = \int_I \mathcal{L}(\gamma(t), |\dot{\gamma}|(t), t)\, d\mu(t), \] onde \(\mathcal{L}\) é o Lagrangiano expresso em termos da norma da velocidade. Esta formulação permite generalizar o princípio variacional para espaços métricos mais gerais (espaços de Alexandrov, espaços \(\mathrm{RCD}(K, \infty)\)), conectando a mecânica clássica à teoria geométrica da medida. A existência de minimizadores para \(S\) segue, sob condições de coercividade e semi-continuidade inferior fraca, do método direto do cálculo variacional nos espaços de Sobolev.

Mais precisamente, o que o princípio de Hamilton postula é que \(\gamma\) é um ponto crítico do funcional \(S\) no espaço de caminhos \(\Omega(Q; q_1, q_2) = \{\gamma \in C^2([t_1, t_2]; Q) : \gamma(t_1) = q_1, \gamma(t_2) = q_2\}\) [ARNOLD-1989; GOLDSTEIN-2002] . Para determinar as equações de movimento, consideramos variações \(\gamma_\epsilon(t) = \gamma(t) + \epsilon \eta(t)\), onde \(\eta: [t_1, t_2] \to TQ\) é uma variação infinitesimal que se anula nos extremos: \(\eta(t_1) = \eta(t_2) = 0\). A condição de estacionariedade, \[\dfrac{d}{d\epsilon}\big|_{\epsilon=0} S[\gamma_\epsilon] = 0,\] implica que: \begin{equation} 0 = \int_{t_1}^{t_2} \left( \frac{\partial L}{\partial q^i} \eta^i + \frac{\partial L}{\partial \dot{q}^i} \frac{d\eta^i}{dt} \right) dt. \end{equation} Integrando por partes o segundo termo e usando \(\eta(t_1) = \eta(t_2) = 0\): \begin{equation} 0 = \int_{t_1}^{t_2} \left( \frac{\partial L}{\partial q^i} - \frac{d}{dt} \frac{\partial L}{\partial \dot{q}^i} \right) \eta^i\, dt. \end{equation} Pelo lema fundamental do cálculo variacional (a arbitrariedade de \(\eta\)), obtemos as equações de Euler-Lagrange: \begin{equation} \frac{d}{dt} \frac{\partial L}{\partial \dot{q}^i} - \frac{\partial L}{\partial q^i} = 0, \quad i = 1, \ldots, n. \tag{8} \end{equation} O princípio variacional representa uma mudança ontológica profunda: em vez de postular forças como causas eficientes locais (no espírito aristotélico-newtoniano), a natureza é concebida como otimizando um funcional global — a ação. Em certo sentido, isso ressoa com a teleologia leibniziana, no sentido de que a natureza agiria segundo princípios de uma "economia racional".

Exemplo 4 (Pêndulo simples revisitado): Para o pêndulo, \(Q = S^1\) com coordenada angular \(\theta\). A Lagrangiana é: \begin{equation} L(\theta, \dot{\theta}) = \frac{1}{2} ml^2 \dot{\theta}^2 - mgl(1 - \cos\theta). \end{equation} A equação de Euler-Lagrange (8) fornece: \begin{equation} \frac{d}{dt}(ml^2 \dot{\theta}) + mgl\sin\theta = 0 \quad \Rightarrow \quad \ddot{\theta} + \frac{g}{l}\sin\theta = 0. \end{equation} Notavelmente, obtivemos a equação de movimento diretamente em termos da coordenada física \(\theta\), sem introduzir forças de vínculo ou coordenadas redundantes.

Exemplo 5 (Partícula em superfície arbitrária): Seja \(Q \subset \mathbb{R}^3\) uma superfície suave com métrica induzida \(g\). A Lagrangiana é: \begin{equation} L(q, \dot{q}) = \frac{1}{2} g_{ij}(q) \dot{q}^i \dot{q}^j - V(q). \end{equation} As equações de Euler-Lagrange tornam-se: \begin{equation} \ddot{q}^k + \Gamma^k_{ij}(q) \dot{q}^i \dot{q}^j = -g^{kl} \frac{\partial V}{\partial q^l}, \end{equation} onde \(\Gamma^k_{ij}\) são os símbolos de Christoffel da conexão de Levi-Civita associada a \(g\). Essas são precisamente as equações geodésicas com força externa — a estrutura geométrica intrínseca do espaço de configurações torna-se manifesta.

§3. O Formalismo Hamiltoniano: Geometria Simplética do Fibrado Cotangente

A transição do formalismo lagrangiano ao hamiltoniano representa uma segunda sublimação conceitual, agora de natureza fundamentalmente geométrica: passamos do fibrado tangente \(TQ\) ao fibrado cotangente \(T^*Q\), equipado com uma estrutura simplética canônica. Esta reformulação não é meramente técnica — ela revela a estrutura geométrica profunda subjacente à mecânica clássica e prepara o terreno para a quantização.

O fibrado cotangente \(T^*Q\) é definido dualizando os espaços tangentes: \begin{equation} T^*Q = \bigcup_{q \in Q} T^*_q Q, \end{equation} onde \(T^*_q Q = (T_q Q)^*\) é o espaço cotangente (dual) a \(Q\) em \(q\) — o espaço de todas as 1-formas (covectores) em \(q\). Um ponto em \(T^*Q\) é um par \((q, p)\) com \(q \in Q\) e \(p \in T^*_q Q\). Em coordenadas locais \((q^1, \ldots, q^n)\) em \(Q\), induzem-se coordenadas canônicas \((q^1, \ldots, q^n, p_1, \ldots, p_n)\) em \(T^*Q\), onde \(p_i\) são as componentes de \(p\) na base dual \(\{dq^i\}\).

A passagem \(TQ \to T^*Q\) é realizada pela transformação de Legendre, definida pela Lagrangiana \(L\). Para cada \((q, \dot{q}) \in TQ\), definimos o momento conjugado: \begin{equation} p_i = \frac{\partial L}{\partial \dot{q}^i}(q, \dot{q}). \end{equation} Assumindo que \(L\) é regular (i.e., a matriz hessiana \(\partial^2 L/\partial \dot{q}^i \partial \dot{q}^j\) é não-singular), a transformação de Legendre \(\mathbb{F}L: TQ \to T^*Q\), \((q, \dot{q}) \mapsto (q, p)\), é um difeomorfismo local. Para Lagrangianas naturais da forma (6), tem-se: \begin{equation} p_i = g_{ij}(q) \dot{q}^j, \tag{9} \end{equation} de modo que \(p\) é o "rebaixamento de índice" de \(\dot{q}\) pela métrica.

Nota técnica 4: A regularidade da Lagrangiana é equivalente à não-degenerescência da métrica \(g\). Sistemas com vínculos não-holônomos ou lagrangianas singulares (como a eletrodinâmica) requerem técnicas mais sofisticadas (formalismo de Dirac para vínculos).

A Hamiltoniana \(H: T^*Q \times \mathbb{R} \to \mathbb{R}\) é definida como a transformada de Legendre de \(L\): \begin{equation} H(q, p, t) = \sup_{\dot{q}} \left( p_i \dot{q}^i - L(q, \dot{q}, t) \right) = p_i \dot{q}^i - L(q, \dot{q}, t), \end{equation} onde \(\dot{q}\) é expresso em função de \((q, p)\) via (9). Para sistemas naturais com potencial independente da velocidade: \begin{equation} H(q, p) = \frac{1}{2} g^{ij}(q) p_i p_j + V(q) = T + V, \end{equation} isto é, a energia total do sistema.

A estrutura geométrica fundamental de \(T^*Q\) é a forma simplética canônica \(\omega\), definida intrinsecamente como segue. Seja \(\theta\) a 1-forma de Liouville (ou forma tautológica) em \(T^*Q\), caracterizada pela propriedade: para qualquer \(\alpha \in T^*_q Q\) e \(v \in T_\alpha(T^*Q)\), \begin{equation} \theta_\alpha(v) = \alpha(\pi_* v), \end{equation} onde \(\pi: T^*Q \to Q\) é a projeção canônica. Em coordenadas locais: \begin{equation} \theta = p_i\, dq^i. \end{equation} A forma simplética é a derivada exterior de \(\theta\): \begin{equation} \omega = -d\theta = dq^i \wedge dp_i. \end{equation} A 2-forma \(\omega\) é fechada (\(d\omega = 0\)) e não-degenerada (para cada ponto, \(\omega_\alpha: T_\alpha(T^*Q) \times T_\alpha(T^*Q) \to \mathbb{R}\) é um produto interno antisimétrico não-singular). O par \((T^*Q, \omega)\) é uma variedade simplética [ABRAHAM-1978; CANNAS-2001].

Dada uma função \(f: T^*Q \to \mathbb{R}\), o campo vetorial hamiltoniano \(X_f\) é definido implicitamente por: \begin{equation} \omega(X_f, \cdot) = df, \end{equation} ou, equivalentemente, \(\iota_{X_f} \omega = df\), onde \(\iota\) denota contração interior. Em coordenadas locais: \begin{equation} X_f = \frac{\partial f}{\partial p_i} \frac{\partial}{\partial q^i} - \frac{\partial f}{\partial q^i} \frac{\partial}{\partial p_i}. \end{equation} As equações de Hamilton são então: \begin{equation} \dot{q}^i = \frac{\partial H}{\partial p_i}, \quad \dot{p}_i = -\frac{\partial H}{\partial q^i}, \quad i = 1, \ldots, n. \tag{10} \end{equation} Estas são precisamente as equações integrais do campo vetorial hamiltoniano \(X_H\): uma trajetória física é uma curva integral de \(X_H\) em \(T^*Q\). A estrutura simplética revela uma simetria profunda entre posição e momento — a dualidade \((q, p)\) não é acidental, mas reflete uma estrutura geométrica intrínseca. Nesse contexto, a forma simplética \(\omega\) pode ser vista como um tipo de positum conceitual que, embora não derivado fenomenologicamente, é constitutivo da possibilidade de uma ciência física matematizada: uma estrutura normativa-teórica que torna inteligível o comportamento causal e o espaço dinâmico de estados, integrando-se à arquitetura conceitual da imagem científica (sellariana) do mundo.

Exemplo 6 (Oscilador harmônico): Para \(Q = \mathbb{R}\), \(L = \frac{1}{2}m\dot{q}^2 - \frac{1}{2}kq^2\). A transformação de Legendre fornece \(p = m\dot{q}\), e a Hamiltoniana: \begin{equation} H(q, p) = \frac{p^2}{2m} + \frac{1}{2}kq^2. \end{equation} As equações de Hamilton são: \begin{equation} \dot{q} = \frac{p}{m}, \quad \dot{p} = -kq, \end{equation} cuja eliminação de \(p\) recupera \(m\ddot{q} + kq = 0\).

Teorema (Equivalência das Formulações): Seja \(L: TQ \times \mathbb{R} \to \mathbb{R}\) uma Lagrangiana regular e \(H: T^*Q \times \mathbb{R} \to \mathbb{R}\) sua transformada de Legendre. Então, uma curva \(\gamma: [t_1, t_2] \to Q\) satisfaz as equações de Euler-Lagrange (8) se e somente se a curva \((\gamma(t), p(t))\) com \(p_i(t) = \partial L/\partial \dot{q}^i|_{\gamma(t)}\) satisfaz as equações de Hamilton (10).

Demonstração (esboço): Derivando \(p_i = \partial L/\partial \dot{q}^i\) e usando as equações de Euler-Lagrange: \begin{equation} \dot{p}_i = \frac{d}{dt} \frac{\partial L}{\partial \dot{q}^i} = \frac{\partial L}{\partial q^i}. \end{equation} Por outro lado, da definição de \(H\) via transformada de Legendre: \begin{equation} \frac{\partial H}{\partial q^i} = -\frac{\partial L}{\partial q^i}, \quad \frac{\partial H}{\partial p_i} = \dot{q}^i, \end{equation} donde seguem imediatamente as equações de Hamilton (10). \(\square\)

A estrutura simplética permite definir o colchete de Poisson de duas funções \(f, g: T^*Q \to \mathbb{R}\): \begin{equation} \{f, g\} = \omega(X_f, X_g) = \frac{\partial f}{\partial q^i} \frac{\partial g}{\partial p_i} - \frac{\partial f}{\partial p_i} \frac{\partial g}{\partial q^i}. \tag{11} \end{equation} O colchete de Poisson satisfaz:

Essas propriedades fazem de \(C^\infty(T^*Q)\) uma álgebra de Lie de Poisson. A evolução temporal de uma observável \(f\) ao longo do fluxo hamiltoniano é: \begin{equation} \frac{df}{dt} = \{f, H\}. \tag{12} \end{equation} Em particular, \(f\) é uma constante de movimento se e somente se \(\{f, H\} = 0\), i.e., \(f\) comuta com \(H\).

Nota técnica 5: As coordenadas canônicas satisfazem as relações canônicas de comutação clássicas: \begin{align} \{q^i, q^j\} &= 0, \\ \{p_i, p_j\} &= 0, \\ \{q^i, p_j\} &= \delta^i_j. \end{align} Essas relações são o ponto de partida para a quantização canônica: substituindo \(\{\cdot, \cdot\} \to -\frac{i}{\hbar}[\cdot, \cdot]\), recuperamos as relações de comutação de Heisenberg.

Teorema de Noether (versão hamiltoniana) [NOETHER-1918]: Seja \(G\) um grupo de Lie agindo em \(Q\) por difeomorfismos, preservando a Lagrangiana. Então, para cada gerador infinitesimal \(\xi\) da ação, existe uma função \(J_\xi: T^*Q \to \mathbb{R}\) (momento associado à simetria) tal que: \begin{equation} \{J_\xi, H\} = 0. \end{equation} Isto é, simetrias contínuas correspondem a leis de conservação.

Exemplo 7 (Momento angular): Para um sistema invariante sob rotações em \(\mathbb{R}^3\), o grupo \(G = SO(3)\) age em \(Q = \mathbb{R}^3\). O gerador infinitesimal de rotações em torno do eixo \(z\) é \(\xi = \partial/\partial \varphi\) (em coordenadas esféricas). O momento conservado é: \begin{equation} J_z = p_\varphi = \text{componente } z \text{ do momento angular}. \end{equation} A invariância rotacional implica conservação do momento angular — uma manifestação do teorema de Noether.

A geometria simplética possui propriedades notáveis de preservação. O teorema de Liouville afirma que o fluxo hamiltoniano preserva a forma simplética: \begin{equation} \mathcal{L}_{X_H} \omega = 0, \end{equation} onde \(\mathcal{L}\) denota a derivada de Lie. Equivalentemente, o fluxo hamiltoniano \(\phi_t^H: T^*Q \to T^*Q\) é um simplectomorfismo: \((\phi_t^H)^* \omega = \omega\). Como consequência, o volume do espaço de fases (medido por \(\omega^n = \omega \wedge \cdots \wedge \omega\)) é preservado — este é o teorema de Liouville para volumes: \begin{equation} \frac{d}{dt} \int_{\Omega(t)} \omega^n = 0, \end{equation} para qualquer região \(\Omega(t)\) evoluída pelo fluxo hamiltoniano. É curioso pensar como, em uma perspectiva de realismo estrutural ôntico [LADYMAN-2007], a estrutura simplética $\omega$ seria identificada com a própria natureza do sistema físico — não haveria distinção entre 'mecanismo causal' e 'estrutura matemática', pois a realidade física é estrutura relacional. A quantização seria então uma transição entre regimes estruturais (simplético → não-comutativo) no próprio tecido da realidade física, não apenas em nossas descrições.

Encerramos esta seção observando que a formulação hamiltoniana, ao contrário da newtoniana, torna manifesta a estrutura de espaço de fases como variedade simplética \((T^*Q, \omega)\), uma vez que as posições e momentos emergem como coordenadas canônicas adaptadas a essa estrutura geométrica intrínseca. O colchete de Poisson (11), que codifica a dinâmica e as simetrias, será o objeto central da quantização por deformação: a passagem da mecânica clássica à quântica será realizada através de uma deformação algébrica do colchete de Poisson em um comutador de operadores, preservando a estrutura de álgebra de Lie. Contudo, antes de adentrarmos a quantização, é necessário formalizar rigorosamente a noção de variedade de Poisson — uma generalização da estrutura simplética que permite tratar sistemas com vínculos, redução simplética e outros fenômenos que transcendem o setting do fibrado cotangente. Essa será a ponte conceitual entre a mecânica clássica e a quantização por deformação.

§4. Variedades de Poisson e a Estrutura Algébrica da Mecânica Clássica

A estrutura simplética de \(T^*Q\) é um caso particular de uma estrutura geométrica mais geral e fundamental: a estrutura de Poisson. Enquanto a forma simplética \(\omega\) é uma estrutura tensorial (uma 2-forma), a estrutura de Poisson é primariamente algébrica — definida diretamente sobre o espaço de funções suaves, sem referência a uma forma diferencial específica.

Definição 1 (Variedade de Poisson) [WEINSTEIN-1983]: Uma variedade de Poisson é um par \((M, \{\cdot, \cdot\})\), onde \(M\) é uma variedade diferenciável suave e \(\{\cdot, \cdot\}: C^\infty(M) \times C^\infty(M) \to C^\infty(M)\) é uma operação bilinear (o colchete de Poisson) satisfazendo:

  1. Antissimetria: \(\{f, g\} = -\{g, f\}\)
  2. Identidade de Jacobi: \(\{f, \{g, h\}\} + \{g, \{h, f\}\} + \{h, \{f, g\}\} = 0\)
  3. Regra de Leibniz: \(\{f, gh\} = \{f, g\}h + g\{f, h\}\)
As propriedades (i)-(ii) fazem de \((C^\infty(M), \{\cdot, \cdot\})\) uma álgebra de Lie, enquanto (iii) estabelece que \(\{f, \cdot\}\) é uma derivação — i.e., \(\{f, \cdot\}\) age como um campo vetorial.

De fato, para cada \(f \in C^\infty(M)\), a regra de Leibniz garante a existência de um único campo vetorial \(X_f\) (o campo hamiltoniano de \(f\)) tal que: \begin{equation} X_f(g) = \{f, g\}, \quad \forall g \in C^\infty(M). \end{equation} A estrutura de Poisson pode então ser codificada por um bivetor de Poisson \(\Pi \in \Gamma(\Lambda^2 TM)\), definido por: \begin{equation} \{f, g\} = \Pi(df, dg). \end{equation} Em coordenadas locais \((x^1, \ldots, x^n)\), o bivetor escreve-se como: \begin{equation} \Pi = \frac{1}{2} \Pi^{ij}(x) \frac{\partial}{\partial x^i} \wedge \frac{\partial}{\partial x^j}, \end{equation} e o colchete de Poisson assume a forma: \begin{equation} \{f, g\} = \Pi^{ij}(x) \frac{\partial f}{\partial x^i} \frac{\partial g}{\partial x^j}. \end{equation} A identidade de Jacobi traduz-se na condição não-linear sobre \(\Pi\): \begin{equation} \Pi^{k\ell} \frac{\partial \Pi^{ij}}{\partial x^k} + \Pi^{i\ell} \frac{\partial \Pi^{jk}}{\partial x^\ell} + \Pi^{j\ell} \frac{\partial \Pi^{ki}}{\partial x^\ell} = 0. \end{equation}

Nota técnica 6: Uma variedade simplética \((M, \omega)\) com \(\omega\) não-degenerada induz uma estrutura de Poisson via \(\Pi = \omega^{-1}\) (onde \(\omega^{-1}\) denota o bivetor dual). Reciprocamente, uma variedade de Poisson com \(\Pi\) não-degenerado em todo ponto é simplética. Contudo, estruturas de Poisson podem ser degeneradas — o bivetor \(\Pi\) pode ter posto variável. Isso permite tratar, por exemplo, a álgebra de Lie \(\mathfrak{g}^*\) (o dual de uma álgebra de Lie) com sua estrutura de Poisson-Lie, onde o posto de \(\Pi\) varia conforme a órbita coadjunta.

Exemplo 8 (Estrutura simplética como Poisson): Para \((T^*Q, \omega)\) com \(\omega = dq^i \wedge dp_i\), o colchete de Poisson é (42): \begin{equation} \{f, g\} = \frac{\partial f}{\partial q^i} \frac{\partial g}{\partial p_i} - \frac{\partial f}{\partial p_i} \frac{\partial g}{\partial q^i}. \end{equation} O bivetor correspondente é \(\Pi = \partial/\partial q^i \wedge \partial/\partial p_i\), que é não-degenerado.

Exemplo 9 (Álgebra de Lie como variedade de Poisson): Seja \(\mathfrak{g}\) uma álgebra de Lie com colchete \([\cdot, \cdot]\). O dual \(\mathfrak{g}^*\) possui uma estrutura de Poisson natural (estrutura de Kirillov-Kostant-Souriau) [VAISMAN-1994]: \begin{equation} \{f, g\}(\mu) = \langle \mu, [d_\mu f, d_\mu g] \rangle, \quad \mu \in \mathfrak{g}^*, \end{equation} onde \(d_\mu f \in \mathfrak{g}\) é identificado com o gradiente de \(f\) via a métrica em \(\mathfrak{g}\). As órbitas coadjuntas de \(\mathfrak{g}^*\) são variedades simpléticas, e a estrutura de Poisson em \(\mathfrak{g}^*\) as folheia.

Um conceito fundamental é o de folheação simplética: toda variedade de Poisson \((M, \Pi)\) é folheada por subvariedades simpléticas — as folhas simpléticas — de dimensões possivelmente variáveis. Duas funções \(f, g \in C^\infty(M)\) são ditas Poisson-comutar se \(\{f, g\} = 0\). O conjunto de todas as funções que comutam com um dado \(f\) forma uma subálgebra de Lie.

A observação crucial, do ponto de vista da quantização, é que a mecânica clássica pode ser inteiramente formulada algebricamente: dado um sistema mecânico, sua descrição completa é codificada por:

A evolução temporal de qualquer observável \(f \in \mathcal{A}\) é dada por (11): \begin{equation} \frac{df}{dt} = \{f, H\}. \end{equation}

Esta reformulação algébrica representa uma mudança ontológica profunda. Em vez de conceber a mecânica como teoria de pontos no espaço de fases (uma ontologia substancialista, no sentido aristotélico), passamos a uma ontologia operacional: o que é primário não são os pontos do espaço, as partículas, mas os observáveis (funções mensuráveis) e suas relações algébricas. Essa transição prepara conceitualmente o terreno para a mecânica quântica, onde a álgebra \(\mathcal{A}\) deixará de ser comutativa.

§5. A Ruptura Quântica: Da Álgebra Comutativa à Não-Comutatividade

A transição da mecânica clássica à mecânica quântica não é meramente uma "correção" ou "refinamento" da teoria anterior, mas representa uma ruptura epistemológica radical — uma coupure épistémologique no sentido de Bachelard [BACHELARD-1938], ou uma revolução científica kuhniana [KUHN-1962]. O que está em jogo não é apenas a precisão empírica das predições, mas a própria estrutura categorial através da qual conceituamos a realidade física. Do ponto de vista formal, a mecânica quântica emerge através de uma deformação da álgebra comutativa clássica em uma álgebra não-comutativa. Consideremos os seguintes contrastes estruturais:

Mecânica Clássica:

Mecânica Quântica:

A correspondência formal entre as duas teorias é estabelecida através do limite semiclássico: \begin{equation} \lim_{\hbar \to 0} \frac{1}{i\hbar}[\hat{f}, \hat{g}] = \{f, g\}, \end{equation} onde \(\hbar\) é a constante de Planck reduzida (\(\hbar \approx 1.055 \times 10^{-34}\) J·s). Esta relação sugere que o colchete de Poisson é a "parte principal" do comutador quando \(\hbar \to 0\). A não-comutatividade dos operadores quânticos não é um detalhe técnico, mas uma revolução ontológica. Em mecânica clássica, \(fg = gf\) para quaisquer observáveis \(f, g\) — a ordem de medição é irrelevante, refletindo a pressuposição de que as propriedades físicas possuem valores definidos independentemente da observação (realismo ingênuo). Na mecânica quântica, \([\hat{f}, \hat{g}] \neq 0\) implica que as medições de \(\hat{f}\) e \(\hat{g}\) são mutuamente perturbadoras — não podem ser simultaneamente realizadas com precisão arbitrária (princípio de incerteza de Heisenberg). Isso força uma reconsideração da própria noção de "propriedade física": as propriedades não são atributos intrínsecos pré-existentes, mas emergem na interação medição-sistema.

Formalmente, um espaço de Hilbert \(\mathcal{H}\) é um espaço vetorial complexo completo equipado com um produto interno \(\langle \cdot, \cdot \rangle: \mathcal{H} \times \mathcal{H} \to \mathbb{C}\) sesquilinear, positivo-definido e que induz uma norma completa [VON-NEUMANN-1932]. Para sistemas com \(n\) graus de liberdade, tipicamente \(\mathcal{H} = L^2(\mathbb{R}^n)\), o espaço de funções quadrado-integráveis: \begin{equation} L^2(\mathbb{R}^n) = \left\{ \psi: \mathbb{R}^n \to \mathbb{C} : \int_{\mathbb{R}^n} |\psi(x)|^2\, dx < \infty \right\}, \end{equation} com produto interno: \begin{equation} \langle \psi, \phi \rangle = \int_{\mathbb{R}^n} \overline{\psi(x)} \phi(x)\, dx. \end{equation}

Os observáveis clássicos \(f \in C^\infty(T^*Q)\) são "promovidas" a operadores auto-adjuntos \(\hat{f}: \mathcal{H} \to \mathcal{H}\). As coordenadas \(q^i\) e momento \(p_j\) tornam-se operadores satisfazendo as relações de comutação canônicas de Heisenberg: \begin{equation} [\hat{q}^i, \hat{p}_j] = i\hbar \delta^i_j \cdot \mathbb{1}, \quad [\hat{q}^i, \hat{q}^j] = 0, \quad [\hat{p}_i, \hat{p}_j] = 0. \end{equation} Em representação de Schrödinger, esses operadores agem em \(\psi \in L^2(\mathbb{R}^n)\) como: \begin{equation} (\hat{q}^i \psi)(x) = x^i \psi(x), \quad (\hat{p}_j \psi)(x) = -i\hbar \frac{\partial \psi}{\partial x^j}(x). \end{equation} Verificamos diretamente: \begin{align} ([\hat{q}^i, \hat{p}_j]\psi)(x) &= \hat{q}^i(\hat{p}_j \psi) - \hat{p}_j(\hat{q}^i \psi) \\ &= x^i \left(-i\hbar \frac{\partial \psi}{\partial x^j}\right) - \left(-i\hbar \frac{\partial}{\partial x^j}(x^i \psi)\right) \\ &= -i\hbar x^i \frac{\partial \psi}{\partial x^j} + i\hbar \left( \delta^i_j \psi + x^i \frac{\partial \psi}{\partial x^j} \right) \\ &= i\hbar \delta^i_j \psi. \end{align}

A dinâmica quântica é governada pela equação de Schrödinger: \begin{equation} i\hbar \frac{\partial \psi}{\partial t} = \hat{H} \psi, \end{equation} onde \(\hat{H}\) é o operador Hamiltoniano, obtido "quantizando" a Hamiltoniana clássica \(H(q, p)\). Para um sistema natural: \begin{equation} \hat{H} = \frac{1}{2m} \hat{p}^2 + V(\hat{q}) = -\frac{\hbar^2}{2m} \Delta + V(x), \end{equation} onde \(\Delta = \sum_i \partial^2/\partial (x^i)^2\) é o Laplaciano.

A interpretação física é radicalmente diferente da clássica: \(|\psi(x)|^2\) representa a densidade de probabilidade de encontrar a partícula na posição \(x\). O valor esperado de uma observável \(\hat{f}\) no estado \(\psi\) é: \begin{equation} \langle \hat{f} \rangle_\psi = \langle \psi, \hat{f} \psi \rangle = \int_{\mathbb{R}^n} \overline{\psi(x)} (\hat{f}\psi)(x)\, dx. \end{equation} A dispersão (incerteza) de \(\hat{f}\) é: \begin{equation} \Delta f = \sqrt{\langle \hat{f}^2 \rangle_\psi - \langle \hat{f} \rangle_\psi^2}. \end{equation}

O princípio de incerteza de Heisenberg emerge como consequência algébrica da não-comutatividade. Para quaisquer dois operadores auto-adjuntos \(\hat{A}, \hat{B}\): \begin{equation} \Delta A \cdot \Delta B \geq \frac{1}{2} |\langle [\hat{A}, \hat{B}] \rangle_\psi|. \end{equation} Em particular, para posição e momento: \begin{equation} \Delta q \cdot \Delta p \geq \frac{\hbar}{2}. \end{equation} Este não é um limite experimental ou tecnológico, mas uma consequência estrutural da álgebra não-comutativa de observáveis quânticas. O princípio de incerteza não afirma que "não podemos conhecer" posição e momento simultaneamente (uma interpretação epistemológica), mas que essas propriedades não possuem valores definidos simultâneos (uma interpretação ontológica). Isso colide frontalmente com o realismo clássico: a natureza não é um sistema determinístico de partículas com trajetórias bem-definidas, mas um campo de potencialidades que se atualizam no ato de medição.

§6. Deformação de Álgebras: O Programa da Quantização

A pergunta fundamental que emerge desse confronto estrutural é: existe um procedimento sistemático e matematicamente rigoroso para passar da álgebra clássica \((C^\infty(M), \cdot, \{\cdot, \cdot\})\) à álgebra quântica \((\mathcal{B}(\mathcal{H}), \circ, [\cdot, \cdot])\)? Esta é a questão central do programa de quantização.

Diversas abordagens foram propostas:

É na quantização por deformação que a estrutura de Poisson revela sua importância fundamental. A ideia central, formalizada por Bayen, Flato, Fronsdal, Lichnerowicz e Sternheimer nos anos 1970 [BAYEN-1978; BAYEN-1978b], é a seguinte:

Programa da Quantização por Deformação: Dado um espaço de Poisson \((M, \{\cdot, \cdot\})\), construir uma família de produtos associativos \(\star_\hbar\) em \(C^\infty(M)[[\hbar]]\) (séries formais de potências em \(\hbar\)) tal que: \begin{equation} f \star_\hbar g = fg + \sum_{n=1}^\infty \hbar^n B_n(f, g), \end{equation} onde \(B_n: C^\infty(M) \times C^\infty(M) \to C^\infty(M)\) são operadores bidiferenciais, satisfazendo:

  1. Associatividade: \((f \star_\hbar g) \star_\hbar h = f \star_\hbar (g \star_\hbar h)\)
  2. Limite clássico (ordem \(\hbar^0\)): \(f \star_\hbar g|_{\hbar=0} = fg\)
  3. Estrutura de Poisson (ordem \(\hbar^1\)): \(\frac{1}{i\hbar}(f \star_\hbar g - g \star_\hbar f)|_{\hbar=0} = \{f, g\}\)

A álgebra \((C^\infty(M)[[\hbar]], \star_\hbar)\) é chamada quantização por deformação (ou produto-estrela) de \((C^\infty(M), \{\cdot, \cdot\})\). O exemplo paradigmático é o produto de Weyl-Moyal em \(\mathbb{R}^{2n}\) com coordenadas \((q, p)\): começamos por definir o operador de Poisson diferencial \(\hat{P}\) agindo em pares de funções: \begin{equation} \hat{P} := \sum_{j=1}^n \left(\overleftarrow{\partial}_{q^j} \overrightarrow{\partial}_{p_j} - \overleftarrow{\partial}_{p_j} \overrightarrow{\partial}_{q^j}\right), \end{equation} onde as setas indicam o lado sobre o qual o operador age: \(f \overleftarrow{\partial}_{q^j} g = (\partial_{q^j} f) g\) e \(f \overrightarrow{\partial}_{q^j} g = f (\partial_{q^j} g)\). Este operador codifica a estrutura bidiferencial do colchete de Poisson.

Construímos agora um operador \(P\) (sem o acento circunflexo) como a composição de mapas: \begin{equation} C^\infty(E) \otimes C^\infty(E) \xrightarrow{\text{can}} C^\infty(E \times E) \xrightarrow{\hat{P}} C^\infty(E \times E) \xrightarrow{\Delta} C^\infty(E), \end{equation} onde o primeiro mapa é a identificação canônica de produto tensorial com funções no espaço produto, e \(\Delta: C^\infty(E \times E) \to C^\infty(E)\) é o pullback pela diagonal, definido explicitamente por: \begin{equation} \Delta(f)(q, p) = f(q, p, q, p). \end{equation} Em coordenadas, se \(f(q', p', q'', p'')\), então \(\Delta(f)(q, p) = f(q, p, q, p)\).

Nota técnica 7: A construção de \(P\) via pullback diagonal é a formulação geométrica correta do "colapso" das variáveis duplicadas. Por construção, a \(k\)-ésima iteração \(P^k\) corresponde à aplicação de \(\hat{P}\) exatamente \(k\) vezes antes de aplicar \(\Delta\). Esta estrutura garante que as propriedades algébricas (associatividade, em particular) sejam preservadas.

Com este operador, o colchete de Poisson pode ser expresso como: \begin{equation} \{f, g\} = f P g = f \sum_{j=1}^n \left(\overleftarrow{\partial}_{q^j} \overrightarrow{\partial}_{p_j} - \overleftarrow{\partial}_{p_j} \overrightarrow{\partial}_{q^j}\right) g, \end{equation} para quaisquer \(f, g \in C^\infty(E)\). Esta notação compacta será fundamental para a definição do produto estrela. Definimos agora o produto de Moyal-Weyl \(\star_\hbar: C^\infty(E) \otimes C^\infty(E) \to C^\infty(E)\) como a série formal [MOYAL-1949; GROENEWOLD-1946; WEYL-1927]: \begin{equation} f \star_\hbar g := \sum_{j=0}^\infty \frac{1}{j!} \left(\frac{i\hbar}{2}\right)^j f P^j g = f \exp\left(\frac{i\hbar}{2} P\right) g. \end{equation} Esta série deve ser interpretada no sentido de séries formais de potências em \(\hbar\) — não necessariamente convergente como série numérica, mas bem-definida ordem a ordem em \(\hbar\). Expandindo explicitamente os primeiros termos: \begin{equation} f \star_\hbar g = fg + \frac{i\hbar}{2}\{f, g\} + \frac{(i\hbar)^2}{8} f P^2 g + O(\hbar^3). \end{equation} Observamos que a ordem \(\hbar^0\) recupera o produto comutativo clássico, enquanto a ordem \(\hbar^1\) fornece o colchete de Poisson — precisamente as condições (2)-(3) do programa de quantização por deformação enunciado anteriormente.

Para estabelecer a conexão com a mecânica quântica, introduzimos o mapa de quantização de Weyl \(\text{Op}: C^\infty(E) \to \mathcal{L}(L^2(\mathbb{R}^n))\), que associa observáveis clássicas a operadores lineares em \(L^2(\mathbb{R}^n)\). Nas coordenadas canônicas, o mapa é definido por: \begin{align} q^j &\mapsto \text{Op}(q^j) = \hat{q}^j, \quad (\hat{q}^j \psi)(x) := x^j \psi(x), \\ p_j &\mapsto \text{Op}(p_j) = \hat{p}_j, \quad (\hat{p}_j \psi)(x) := -i\hbar \frac{\partial \psi}{\partial x^j}(x), \\ 1 &\mapsto \text{Op}(1) = \mathbb{1}, \quad (\mathbb{1} \psi)(x) := \psi(x), \end{align} para \(\psi \in L^2(\mathbb{R}^n)\) e \(x = (x^1, \ldots, x^n) \in \mathbb{R}^n\). Estes operadores satisfazem as relações de comutação canônicas de Heisenberg: \begin{equation} [\text{Op}(q^j), \text{Op}(p_k)] = i\hbar \delta^j_k \, \mathbb{1} = i\hbar \, \text{Op}(\{q^j, p_k\}), \end{equation} estabelecendo a correspondência fundamental entre colchetes de Poisson clássicos e comutadores quânticos.

Para observáveis gerais, o mapa de Weyl admite uma formulação integral elegante via transformada de Fourier. Dada \(f \in C^\infty(E)\), sua transformada de Fourier é \(\mathcal{F}(f): E^* \to \mathbb{C}\), e podemos escrever: \begin{equation} f(q, p) = \int_{E^*} e^{i\sum_j (q^j Q_j + p_j P_j)} \mathcal{F}(f)(Q, P)\, dQ\, dP, \end{equation} onde \(E^* = (\mathbb{R}^{2n})^*\) é o dual de \(E\). Aplicando \(\text{Op}\) linearmente: \begin{equation} \text{Op}(f) = \int_{E^*} e^{i\sum_j (\hat{q}^j Q_j + \hat{p}_j P_j)} \mathcal{F}(f)(Q, P)\, dQ\, dP. \end{equation} Como a exponencial de operadores auto-adjuntos é unitária, dizemos que \(f\) é um símbolo de Weyl do operador \(\text{Op}(f)\).

Nota técnica 8: A representação integral acima requer cuidados de teoria da medida e análise funcional. Para funções em \(\mathcal{S}(\mathbb{R}^{2n})\) (o espaço de Schwartz de funções rapidamente decrescentes), a integral converge no sentido de operadores em \(L^2(\mathbb{R}^n)\). Para símbolos mais gerais, trabalha-se com distribuições temperadas \(\mathcal{S}'(\mathbb{R}^{2n})\) e a teoria de operadores pseudo-diferenciais.

A propriedade fundamental do mapa de Weyl é que ele interlaça o produto estrela com a composição de operadores: \begin{equation} \text{Op}(f \star_\hbar g) = \text{Op}(f) \circ \text{Op}(g), \end{equation} ou, equivalentemente, definindo o produto estrela via: \begin{equation} f \star_\hbar g := \text{Op}^{-1}(\text{Op}(f) \circ \text{Op}(g)). \end{equation} Isto estabelece que \(\text{Op}\) é um isomorfismo de álgebras (no sentido formal): \begin{equation} \text{Op}: (C^\infty(E)[[\hbar]], \star_\hbar) \xrightarrow{\sim} (\mathcal{L}(L^2(\mathbb{R}^n)), \circ). \end{equation}

A expressão (71) pode ser reescrita na forma exponencial compacta: \begin{equation} f \star_\hbar g = f \exp\left(\frac{i\hbar}{2} P\right) g, \end{equation} que é formalmente análoga à série de Taylor de uma função \(f \in C^\infty(\mathbb{R})\): \begin{equation} f(x + \varepsilon) = \exp\left(\varepsilon \frac{d}{dx}\right) f(x) = \sum_{k=0}^\infty \frac{\varepsilon^k}{k!} \frac{d^k f}{dx^k}(x), \end{equation} que converge se, e somente se, \(f\) for analítica real. Analogamente, a série (71) converge (no sentido de séries formais) para observáveis suficientemente regulares — tipicamente, funções analíticas ou no espaço de Schwartz.

Esta analogia justifica tratarmos \(\hbar\) como parâmetro formal de deformação e trabalharmos no anel de séries formais. Definimos, portanto:

Definição 2 (Álgebra de Weyl): A álgebra de Weyl (ou álgebra de Moyal-Weyl) é a álgebra das séries formais de potências em \(\hbar\) com coeficientes em \(C^\infty(E)\), equipada com o produto estrela \(\star_\hbar\): \begin{equation} \mathcal{W}(E) := (C^\infty(E)[[\hbar]], \star_\hbar). \end{equation} Esta álgebra é uma quantização por deformação da álgebra de Poisson \((C^\infty(E), \cdot, \{\cdot, \cdot\})\).

As propriedades fundamentais da álgebra de Weyl são:

  1. Associatividade: \((f \star_\hbar g) \star_\hbar h = f \star_\hbar (g \star_\hbar h)\)
  2. Não-comutatividade: \(f \star_\hbar g - g \star_\hbar f = i\hbar \{f, g\} + O(\hbar^2)\)
  3. Limite clássico: \(\lim_{\hbar \to 0} f \star_\hbar g = fg\) (produto pontual)
  4. Involução: \((f \star_\hbar g)^* = g^* \star_\hbar f^*\), onde \(f^*(q, p) = \overline{f(q, p)}\)
  5. Derivação: Para o colchete de Moyal \([f, g]_\star := \frac{1}{i\hbar}(f \star_\hbar g - g \star_\hbar f)\), tem-se \([f, gh]_\star = [f, g]_\star h + g[f, h]_\star\)

A álgebra de Weyl realiza concretamente a ideia de que a mecânica quântica é uma deformação contínua da mecânica clássica, controlada pelo parâmetro \(\hbar\). Não há salto descontínuo entre os regimes clássico e quântico, mas uma transição suave através de um espaço de estruturas algébricas. Contudo, Bhaskar alertaria que esta continuidade matemática não implica necessariamente continuidade ontológica: o mecanismo generativo intransitivo operante em escalas quânticas pode ser qualitativamente distinto do mecanismo clássico. A álgebra de Poisson e a álgebra de Weyl seriam modelos transitivos que descrevem diferentes regimes do mesmo (ou de distintos) mecanismo(s) causal(is), sem que as estruturas matemáticas sejam identificadas com os mecanismos reais.

O teorema fundamental, provado por Kontsevich (1997, Fields Medal 1998), estabelece [KONTSEVICH-1997]:

Teorema (Kontsevich): Toda variedade de Poisson finito-dimensional admite uma quantização por deformação, única módulo equivalência. Mais precisamente, o espaço de quantizações por deformação módulo equivalência é afim sobre o espaço de cohomologia de Hochschild \(HH^2(M)\).

Este resultado, conhecido também por Teorema da Formalidade, estabelece que a passagem da mecânica clássica à quântica pode ser rigorosamente formulada como deformação de álgebras comutativas em álgebras não-comutativas, controlada pela estrutura de Poisson. A constante \(\hbar\) emerge não como parâmetro físico arbitrário, mas como parâmetro de deformação que interpola continuamente entre o regime clássico (\(\hbar = 0\), álgebra comutativa) e o regime quântico (\(\hbar \neq 0\), álgebra não-comutativa). quantização por deformação revela uma unidade estrutural profunda entre mecânica clássica e quântica: ambas são manifestações de uma mesma estrutura algébrica fundamental — a álgebra de Poisson — em diferentes regimes de deformação. A não-comutatividade quântica não é, portanto, um mero formalismo matemático, mas expressa uma característica estrutural irredutível da própria realidade física em escalas microscópicas. O desenvolvimento rigoroso da teoria de quantização por deformação, incluindo a formalização de outros produtos não-comutativos, a cohomologia de Hochschild, grafos de Kontsevich, e aplicações à teoria quântica de campos, será objeto de uma publicação futura.

Bibliografia: Introdução à Quantização por Deformação

Para àqueles que buscam um aprofundamento em algum tópico abordado no texto, deixo aqui algumas referências que usei, direta ou indiretamente, na produção deste artigo. Não cito cada referência diretamente no texto por motivos de: muito trabalho.

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